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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ESTA SEMANA - A (in)sustentabilidade dos recursos minerais


Apesar do programa completo estar esgotado, podem ainda tentar apanhar as últimas vagas para assistir à palestra do Iain Stewart e ao debate que se seguirá, com um painel de convidados de várias àreas envolventes à temática da exploração de recursos minerais. 






terça-feira, 29 de outubro de 2019

Conferência e Debate "A (in)sustentabilidade dos Recursos Minerais"

Publicado originalmente e publicitado na página da Sociedade Geológica de Portugal, decorrerá no dia 20 de Novembro, 4feira, no Lousal, uma iniciativa da SGP e do CCVLousal para celebrar a ciência dos recursos minerais. Haverá lugar à apresentação de um livro " A Mina que vivemos " da autoria de Sofia Pereira, e uma conferência proferida pelo Iain Stewart, um excelente comunicador de ciência. Vejam a publicação original mais abaixo. 

A Sociedade Geológica de Portugal e o Centro Ciência Viva do Lousal, organizam uma Conferência seguida de Debate aberto, sob o tema "A (in)sustentabilidade dos Recursos Minerais". A conferência será proferida pelo Prof. Iain Stewart da Universidade de Plymouth (RU), um dos grandes comunicadores de Ciência a nível mundial, particularmente na área das Geociências, contando, entre muitos outros trabalhos, com diversas séries na muito prestigiada BBC e o debate será conduzido por um painel de convidados.
Na Sociedade actual, em profunda e rápida transformação, onde vários desafios têm sido postos “na ordem do dia”, com principal ênfase para a Humanidade, menos atenção se tem dedicado à demanda e pressão que esses desafios exercem sobre a prospecção e exploração de recursos minerais, que são finitos no planeta Terra. Nem sequer, como já aconteceu no passado recente, quando se estabelecem determinadas directivas, designadamente na Europa, se medem em toda a plenitude as possíveis consequências dessas acções, com consequências nefastas “algures” no Planeta e de dimensões equivalentes ou maiores do que os benefícios que, em princípio, se pretendem retirar.
São os Recursos Minerais que têm de suprir o aumento substancial do uso de novas tecnologias de uso comum para o aumento progressivo do bem-estar a nível mundial; paralelamente, são os Recursos Minerais que têm de ser produzidos em quantidade suficiente para garantir que são satisfeitas as necessidades inerentes ao aumento constante de desmesurado da população mundial; e são os Recursos Minerais que, num horizonte muito próximo, terão de substituir, se é que tal é possível, fontes de energia baseadas nos combustíveis fósseis para fontes de energia enquadradas nos objectivos da Economia Descarbonizada.
Como consequência, a Economia Circular não é, de todo, circular pelo que o aumento da exploração de Recursos Minerais é um facto por demais evidente. E o planeta tem capacidade de resposta para este enorme esforço? E o aumento da exploração destes recursos não potenciará novas fontes de conflitualidade social com dispersões geográficas não apenas locais? Para além de ser gerador de outros impactos naturais e antrópicos ainda (muito) insatisfatoriamente avaliados?
Esta Conferência / Debate pretende trazer, de uma maneira informada, estas questões para o grande público interessado e preocupado com os problemas do nosso Planeta, com o suporte científico de quem está no terreno, os Geólogos e Geocientistas de uma forma mais ampla. O Debate resultante da Conferência de Iain Stewart não se pretende que seja feito em “circuito fechado”! Ele é aberto a todos aqueles que, estando também preocupados com os impactos que a Humanidade está, e irá cada vez mais produzir na Terra, com consequências nefastas para ela própria e para outras formas de vida, e sendo de outras áreas do conhecimento queiram ajudar numa reflexão que pretende extravasar, e muito, o âmbito, local e data da realização desta Conferência / Debate.
A Conferência / Debate será antecedida do lançamento de um Livro intitulado "A Mina em que vivemos" da autoria de Sofia Pereira, destinado ao público em geral, mas muito em especial aos alunos e professores dos Ensinos Básico e Secundário, sobre os elementos químicos e os minerais de onde são extraídos começando, nesta primeira versão, pelos elementos definidos como críticos pela União Europeia (ver programa em baixo). Este livro será o primeiro livro de uma sequência de outros, sob o tema geral dos Recursos Minerais, mas onde se abordarão outro tipo de questões, mais vastas e integradoras, mas sempre com dois intuitos principais: o de serem cientificamente suportados, informativos e formativos e o de estarem ao alcance de todos os públicos, no que se refere à simplicidade da comunicação.



PROGRAMA PRELIMINAR
Sessão da Manhã
- Receção / Icebreaker
- Apresentação do Evento
- Apresentação do Livro “A Mina em que vivemos”, da autoria de Sofia Pereira
Pausa para almoço
Sessão da Tarde
- Percurso Mineiro e visita a uma galeria subterrânea recuperada na Mina do Lousal
- Palestra por Iain Stewart
- Mesa Redonda
- Porto de Honra e Encerramento

ALMOCO BUFFET
O almoço terá lugar no Restaurante Armazém Central, em regime buffet com uma oferta gastronómica
tipicamente alentejana.
Preço: 20 €

COMO CHEGAR?
De Autocarro (organização)
Saída de Lisboa – Gare do Oriente: 8:30h
Regresso a Lisboa – Gare do Oriente: após o encerramento do evento
Preço: 10 €
Indicar se pretende esta opção de transporte no formulário de inscrição.
De Carro
Vindo do Porto ou Lisboa: A2 saída Beja/Ferreira. Siga em direção a Ourique/Faro. Cerca de 9 kms depois,
vire à direita na indicação “Arqueologia Industrial – Lousal”.
Vindo do Algarve: A2 saída Aljustrel. Siga em direção a Santiago/Sines. Siga, à direita, a indicação
“Mimosa”. Cerca de 10 kms depois, vire à esquerda na indicação “Arqueologia Industrial – Lousal”.
De Comboio (CP intercidades)
Estações: Grândola (30 km) e Ermidas-Sado (5,8 km)
Visite condições especiais: https://www.cp.pt/passageiros/pt/descontos-vantagens/vantagensparcerias/
ciencia-viva

CONTACTOS
Sofia Pereira - ardi_eu@hotmail.com
Mais informações em Sociedade Geológica de Portugal (https://socgeol.org/;
https://www.facebook.com/sociedadegeologica.deportugal)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Tomada de consciência ou nem por isso?

Muito se tem discutido nos passados meses sobre a consciência ambiental. Desde o fenómeno Greta até ao PAN, as palavras ferozes, contestatárias e de ordem chegam-nos de todo o lado. Não é assim à toa que então surja em todos os programas eleitorais, sejam eles à esquerda ou à direita, uma prioridade denominada "a crise ou emergência climática". 

Segue um convite a digerir alguns exemplos. Aviso: Não faz engordar. O Bloco de Esquerda apresenta um programa em que o seu passo #1 é uma acção pelo clima. 


Lendo as variadas propostas que o Bloco apresenta para ir de encontro a esta emergência é óbvio que não encontramos nenhuma resposta satisfatória para a pergunta base: como é que se continua a crescer economica e demograficamente sem ter um plano de obtenção e aproveitamento de matéria-prima? 

Para perceber o que é que implica para o Bloco a reconversão industrial, abrimos o link que nos leva para os seguintes pontos: 

Será que o Bloco, que geralmente é tão afoito dos estudos e que pede os seus próprios pareceres, analisou seriamente a questão para perceber se Portugal domina as infraestruturas e está preparado para essa mudança já a partir de 2025? Ou estamos simplesmente a ir na onda, logo o Bloco que "raramente" concorda com directivas europeias. 

Já o PCP, não abandonando a sua retórica típica, também inclui no seu programa acções em prole do ambiente. Para quem achava que nunca conseguiria ouvir mudanças no discurso do Jerónimo aqui vai.
É interessante aplicar o termo "viragem" na política ambiental, quando Portugal tem sido pioneiro já desde os tempos de Sócrates (para o bem e para o mal) na implementação das energias renováveis. E daí que isto se pareça simplesmente com aproveitamento político de uma temática que está nas páginas dos jornais. 

Eu não sei se a APA precisa de um reforço ou se precisa simplesmente de gente séria. Mas é extremamente interessante que no topo das prioridades neste tema surja reavivar duas instituições com responsabilidades sobre a natureza e gestão de pareceres de impacto ambiental - nós sabemos como isto funciona ou não?


Ainda que não faça parte do texto principal, o PCP convida a uma reflexão que intitularam de "O ambiente e o capitalismo verde", porque já fazia falta introduzir o termo capital nas suas medidas. 
Afinal alguém tem coragem de escrever sobre a exploração dos recursos naturais, dizendo que é compatível com a defesa do ambiente. Mas novamente é uma afirmação vaga, sem quaisquer efeitos práticos. O PCP vai ou não permitir avaliações rigorosas das matérias-primas em Portugal, apostar na linha de produção para que hajam mais-valias económicas para o País e esquematizar um programa sério de descarbonização faseada? 

Continuando a ler as várias medidas propostas, parece mais uma carta pedida ao Pai Natal, com várias coisas que gostaríamos de ter mas que não sabemos ou não explicamos como.

Como ler o programa eleitoral do CDS-PP é basicamente o mesmo que ler o do PSD, não nos demoremos em ambos. O PSD com o seu site muito user-friendly convida a quem quiser a ir de clique em clique pelo seu programa. Até parece o programa eleitoral do Bloco. O #1 das preocupações para um próximo governo são as ditas alterações climáticas. Só depois vêm as finanças públicas, pois um programa que vise tirar todos os carros movidos a combustíveis fósseis vai ser feito sem custos para os utilizadores e para o estado. Ahhhhh talvez não. 


A Saúde vem em 3º lugar, mas até espanta. Não me lembro de ver grandes avanços neste sector, tirando o aumento das horas extra pagas aos profissionais da saúde para se quadriplicarem em todos os profissionais que fazem falta, mas que não podem ser contratados. Melhorar a eficiência o quê? Não... eficiência só para subir salários aos magistrados. 

Depois de uma breve introdução "para totós", como sendo "A emissão de gases de efeito estufa tem provocado um aquecimento global do planeta" surgem finalmente as propostas concretas do partido.
Ficamos com a ideia de que alguém no PSD deve andar no lobby dos biocombustíveis ou Biomassa, pois em uma dúzia de propostas estas surgem na dianteira:

Curiosamente, e no fundo, o PSD quer reduzir o CO2 para irem de encontro às directivas europeias e mundiais, mas querem queimar biomassa... Então o plano vai ser arborizar para depois queimar. Engenhoso. Mas evitamos falar em combustíveis fósseis e exploração de recursos minerais e chutamos para canto como é que pretendem transitar e mudar por inteiro a frota do estado para veículos "híbridos" ou totalmente "eléctricos". Estará aqui o nascimento de um novo subsídio para deputados? Apoio para a mobilidade 2.0. 

Após ler este programa, fica-se com uma sensação de "soube a pouco", pois fala-se em reciclagem mas não se fala da implementação de infraestruturas capazes de reciclar as baterias que irão provir desta mudança de frota tão repentina. Nem dessa e nem dos milhares de veículos "que já não servem" que irão parar às sucateiras para nos embelezarem a nossa rica paisagem lusitana. 

As medidas do PS nem adiantam aqui colocar, pois o PS já está no governo há tempo suficiente para tomar posições. Sendo que, e pelo menos no papel, parecem determinados em desenvolver a indústria mineira associada ao lítio, a par da transformadora. Mas será o lítio a única alternativa? È esse o único ponto de acção de um governo que quer liderar a transição energética na Europa?

Por outro lado, e porque de repente nasceu o consenso entre a direita e a esquerda, todos os partidos estão preocupados com o mesmo, todos querem o mesmo e dizem o mesmo sobre essas coisas que querem. Na realidade parece ser finalmente  uma verdadeira maioria parlamentar, um motivo de união partidária em prole do ambiente. É pena é que ninguém queira dizer aos portugueses como é que isto se consegue a par de manter todas as condições e desenvolvimento tecnológico que é desejado e imposto pela economia global. E quais os verdadeiros números por detrás da transição energética. E se existe alguém ou não a lucrar com esta transição repentina. E se não existem formas mais sérias para se obterem os mesmos resultados. Isso também não convém discutir. 

Em jeito de terminar, fica aqui um link para os leitores mais ávidos. Enquanto a Europa se preocupa com as suas demagogias, outros países sofrem os efeitos práticos da mentalidade NIMBY. Texto em Inglês porque em Portugal não dá muito jeito falar nestas coisas. 


E não. A mensagem aqui não é que as minas de extração de cobalto sejam más, ainda que nunca possam ser totalmente inócuas. No entanto, as políticas de extração no Congo é que são más. Mas desde que os smartphones continuem a chegar às lojas europeias, está tudo bem! É esta a verdadeira tomada de consciência. Nada é eterno. Nem o Homem. 


Escrito por
Inês Pereira

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Vamos celebrar o Dia do Geólogo?

O Dia do Geólogo aproxima-se e será celebrado no fim-de-semana de 11 e 12 de Maio (2019).
Uma série de iniciativas terão lugar em todo o país e que estão em constante actualização aqui.

Fazemos aqui uma síntese (à data de hoje) das diversas actividades, e os links para as mesmas (retirado do site da SGP).


1 - "Património Geológico do Geoparque Estrela" (Geoparque Estrela) - link

2 - "Identidade de um Território" (Geopark Estrela) - (ver link em 1)

3 - "Montanhas Mediterrânicas e Património Geológico" (Geopark Estrela) - (ver link em 1)

4 - "Curso de Campo" (GGET - Grupo de Geologia Estrutural e Tectónica, SGP) - cartaz

5 - "Saída de Campo de Grândola à Praia do Norte (Sines)" (Univ. Évora) - Detalhes

6 - "Minerais e rochas ao microscópio petrográfico" (FCT NOVA Lisboa) - Detalhes e foto

7 - "Minerais à nossa volta - De onde vêm? Para que servem?" (Centro Ciência Viva da Floresta e Geopark Naturtejo) - Cartaz

8 - "Tungsténio (W) na antiguidade e Lítio (Li) na atualidade na Região do Barroso-Cerva" (Museu de Geologia Fernando Real, UTAD) - Detalhes

9 - "Fim de tarde de domingo, no Museu de Geologia Fernando Real" (Museu de Geologia Fernando Real, UTAD) - Detalhes

10 - "Garimpeiros no Alentejo; pelo Ouro eu vou!" (Univ. Évora) - Cartaz 1

11 - "Um passeio geológico pela história e edificado de Estremoz" (Univ. Évora) - Cartaz 2

12 - "Os Monumentos Naturais da Pedreira do Avelino, da Pedra da Mua e de Lagosteiros" (C. Mun. Sesimbra, FCT NOVA Lisboa, FCULisboa) - Link

13 - "Brecha da Arrábida - da extração à aplicação" (C. Mun. Setúbal, FCT NOVA Lisboa, Esc. Sec. Fernão Mendes Pinto) - Link

14 - "À Conversa com Geólogos" (Museu da Lourinhã) - Link

15 - "Visita à pedreira da Barranca" (Museu da Lourinhã) - Link

16 - "Conhecimento do processo de formação da Serra da Boa Viagem" (Associação de Pais e EE do Agrupamento de Escolas Figueira Mar em parceria com o Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra) - Cartaz

17 - Saída de campo: “Pedreira de Santo António em Estremoz” (Centro Ciência Viva de Estremoz) - Link e descarregar aqui, fotos relativas às actividades propostas (17 a 20) (36Mb)

18 - "Ciência no Mercado”, temática “Fósseis do fundo do Mar” (Centro Ciência Viva de Estremoz) - (ver Link em 17)

19 - Exposição permanente “Terra; um planeta dinâmico” (Centro Ciência Viva de Estremoz) - (ver Link em 17)

20 - Exposição temporária “Evolução; Portugal de antes da História” (Centro Ciência Viva de Estremoz) - (ver Link em 17)

Porquê celebrar este dia? 

O Dia do Geólogo é uma celebração recente, tendo tido a sua primeira edição no ano de 2014. Era necessário encontrar uma data que pudesse unir a classe de profissionais e de estudantes, mas que também pudesse servir de estandarte para a realização de actividades de divulgação. Por consonância com o dia celebrado em Espanha e por vontade da direcção da Sociedade Portuguesa de Geólogos, a data passou a decorrer durante o segundo fim-de-semana do mês de Maio. Para as escolas, a celebração poderá iniciar-se na 6ª feira imediatamente anterior. 
Mais do que encher a agenda com mais um dia de celebrações, esta iniciativa pretende aproximar geólogos e cidadãos, ao mesmo tempo que se pretende enaltecer a importância de uma das actividades mais antigas da nossa sociedade: o estudo da parte sólida da Terra, quer para conhecimento s.s., quer para aproveitamento dos seus recursos ou na gestão e prevenção dos riscos geológicos.

Esta actividade e profissão é verdadeiramente apaixonante! Se tem dúvidas ou curiosidade, atire-se a uma destas actividades e vá descobrir todo um outro mundo por detrás de cada paisagem, leito de rio ou talude de estrada!

Stoer Bay (NW Escócia) onde se podem observar paleorelevos formados anteriormente à deposição das unidades do Meso-Neoproterozóico (1.2-1.0 Ga) sobre o complexo gneíssico Lewisiano de idade Arcaico (2.9-2.7 Ga) e que dão lugar a relevos de dureza que se podem observar por toda esta região. 
 Um dos afloramentos mais icónicos do Laxfordiano (1.75Ga) com várias gerações de intrusões magmáticas e de pegmatitos (a rosa), representando a colisão dos vários blocos que compõem o NW da Escócia naquela idade, coincidente com a formação do supercontinente Columbia (ou Nuna).
Afloramento de Granodiorito (formando um complexo TTG) de idade Arcaico (2.7 Ga) no estado de Minas Gerais, Brazil. Estas são rochas que compõem grande parte da crosta continental e que serviram de base para o crescimento dos continentes. Este foi um período de transição entre crescimento crustal e aumento da reciclagem da crosta através de fenómenos como a subducção. 

Um dos fenómenos mais enigmáticos da geologia é a formação de migmatitos, e, neste caso, com formação de um mineral muito especial, a granada! Estes migmatitos ter-se-ão formado durante a colisão de blocos de TTG durante o Arcaico (ca. 2.7 Ga) e que, por consequência das elevadas temperaturas durante a sua colisão, terão levado à formação de fusão da crosta já existente). Minas Gerais, Brazil. 


Leito do rio Àgueda, na fronteira de Portugal com a Espanha (perto de Figueira de Castelo Rodrigo).  A paisagem acidentada, como resultado de neotectonismo, expõe as raízes de uma cadeia de montanhas que terá composto boa parte do território Europeu há aproximadamente 300 Ma. Aqui também afloram migmatitos, evidências de processos de fusão crustal, mas muito mais recentes do que as do exemplo anterior. 


Paisagem da Arrábida ao entardecer num dia de verão, enaltecendo a encosta de calcário recortada pela acção abrasiva do mar. Este relevo resulta da actual convergência entre as placas Africana (Núbia) e a Euroasiática (que faz elevar o bloco da Arrábida) em conjugação com as variações do nível médio das águas do mar. Devido à natureza da rocha que compõe estes relevos, é proficuo o desenvolvimento de uma paisagem cársica, resultando numa série de grutas e algares. 



Fotos e texto de Inês Pereira

Energia, recursos, alterações climáticas e a sociedade actual. Como conseguiremos ultrapassar o maior desafio da humanidade? Por Pedro Barreto


A poucos dias de celebramos o dia do geólogo, decidimos partilhar um texto exemplarmente escrito por Pedro Barreto (link para o seu perfil no final do texto). Achamos importante continuar a informar e a esclarecer os demais cidadãos portugueses relativamente aos recursos naturais e ao seu enquadramento na sociedade actual. Curiosos para saber mais sobre esta temática? Continuem a ler. 



Ficam desde já a saber (alguns já o sabem!) que sou geólogo e ao longo da minha carreira fui trabalhando cada vez mais frequentemente com a exploração de hidrocarbonetos, sendo que hoje em dia trabalho directamente para a indústria petrolífera.

Escrevo este parágrafo como uma salvaguarda, um “disclamer”, pois como tal, sou automaticamente considerado suspeito, influenciado e como alguns afirmaram no passado, um vendido que tenta proteger a sua fonte de rendimento. No entanto, e apesar de poder como geólogo trabalhar num vasto leque de sectores e indústrias tão ou mais lucrativas que a indústria petrolífera, sinto o dever ético e moral de ser o primeiro a salientar o que sou e de onde venho quando escrevo este artigo de opinião. Tal não é pratica comum em muitos dos autores de artigos sobre temáticas energéticas e/ou ambientais, o que a meu ver é de alguma forma condenável, pois apesar de terem interesses directos ou indirectos deliberadamente não o manifestam explicitamente aos seus leitores. 

Entendo, apesar de não compreender, que optem neste momento por não continuar a ler este artigo, no entanto acredito no direito do contraditório, na liberdade de expressão e igualmente importante a necessidade de ouvir várias opiniões para poder ter uma opinião bem formada, mesmo que contraria á minha.

Apesar da minha presente actividade profissional, ficam também a saber que já antes de trabalhar para a indústria petrolífera, era geólogo formado na Universidade de Lisboa, altura em que nada tinha nem queria ter a ver com a exploração de recursos naturais. Estava mais interessado na investigação científica aplicada ao estudo do Planeta Terra, em particular na tectónica de placas e no processo de criação de cadeias montanhosas. Aliás a ideia que tinha formado durante a minha licenciatura é que, para além da defesa dos princípios da sustentabilidade e da utilização racional de recursos, que ainda hoje defendo, achava diabólica e instrumentalizadora a indústria extractiva, principalmente a de recursos fósseis. Apesar disso já na altura percebia que na sociedade em que hoje vivemos, é cada vez mais difícil e até mesmo inviável aplicar as teorias e ideologias ambientalistas radicais na prática. A civilização e principalmente a sociedade tal como a conhecemos actualmente, não são bem e nunca foram compatíveis com radicalismos. Seja por razões de carácter pessoal ou social, a realidade é que para mim o ambiente e a sustentabilidade, sempre foram factores a serem tomados em conta na altura de tomar decisões do dia-a-dia ou não fosse eu um apaixonado pelo planeta, pela natureza e pelas actividades ao ar livre.
©Pedro Barreto 2018

Como geólogo tenho plena consciência que a Terra já foi mais fria, mas também mais quente. De facto, já foi mais fria e quente umas largas centenas, senão mesmo milhares de vezes ainda antes do Australopithecus Afarensis (primeiro hominídeo bípede, antepassado do homem) ter aparecido na Terra há 2.8 milhões de anos atrás (a Terra tem cerca de 4500 milhões de anos!). A Terra já cá estava e continuará a estar depois de cá andarmos. Os ciclos da natureza acontecem, podem ser acelerados ou atenuados, mas não podem ser evitados. Quer queiramos quer não, o homem não é o centro do mundo.

Com isto não quero dizer que não nos devemos preocupar com o planeta, com a sua estabilidade dinâmica e os seus recursos. Com isto também não quero dizer que não temos impacto na Terra, porque é óbvio que temos, e muito mais do que a maioria de nós julga. Mas será este significativo para a sobrevivência do planeta? Não, acredito que não é significativo para a sobrevivência do planeta. Mas atenção, reparem que disse do planeta. Digo isto, porque acredito também que é extremamente significativo, muito mesmo, para a existência, sobrevivência e evolução da espécie humana e mais ainda para o que chamamos civilização e sociedade.

Sem sombra de dúvida, que se não acautelarmos o uso racional dos recursos naturais, sejam eles quais forem, estaremos a acelerar o processo natural de extinção de espécies, principalmente da nossa.

No entanto, a meu ver a questão que devíamos colocar, não é se estamos a provocar ou a acelerar as alterações climáticas. Considero isso até certo ponto irrelevante. Quer queiramos ou não, quer influenciemos ou não, a realidade é que a atmosfera terrestre vai aquecer e depois vai voltar a arrefecer e assim sucessivamente, até eventualmente o motor do nosso sistema, o sol, explodir, algo que os cientistas calculam que ainda demorará uns outros 4 600 milhões de anos.

Sempre existiram ciclos de glaciação e interglaciação na Terra, e muito antes do homem existir. Num destes ciclos, há cerca de 400 milhões de anos (Periodo Devónico), a Terra ficou totalmente coberta por gelo, naquilo a que os geólogos apelidaram de Snowball Earth. No Pérmico (250 milhões de anos, de abreviação Ma), período imediatamente anterior á Era (Mesozóica) dos dinossauros, onde cerca de 90% das espécies desapareceram da Terra, esta era em média 6ºC mais quente que a temperatura média actual. Houve também um período da Terra, bem mais recente á cerca 50 Ma, em que a temperatura era 5 a 8 ºC superior á actual e em que a concentração de CO2 na atmosfera era 3 vezes a actual. Este período é conhecido tanto por geólogos como pelos verdadeiros especialistas climáticos (climatologistas) como o período em que a terra teve a maior concentração de CO2 na atmosfera. Este foi apelidado Paleocene–Eocene Thermal Maximum (PETM).

Uma das questões que devemos colocar é como nos iremos adaptar às alterações climáticas, de aquecimento e de arrefecimento, que de origem antropogénica (resultante da actividade humana) ou não, irão como aconteceu no passado, afectar o clima terreste e por consequência a vida na Terra.

Para esta pergunta deixo uma outra para ser respondida mais tarde. Como iremos enfrentar este desafio se não tivermos disponíveis recursos energéticos viáveis, de múltiplas origens e independentes do clima? Isto porque em caso de seca não podemos contar exclusivamente com a energia hídrica. Em caso de frio não podemos contar apenas com a energia solar. E o vento só produz energia eólica ¼ a 1/3 do ano. Se não tivermos outros recursos energéticos, como iremos ultrapassar estes desafios na sociedade moderna em que vivemos? O Homo Sapiens e o Homo Neanderthal só sobreviveram aos períodos glaciares usando o fogo, a sua fonte energética. Porém viviam em pequenas tribos ou comunidades. Como nos iremos arrefecer nos próximos períodos interglaciares mais extremos sem fontes estáveis de energia? Como iremos erguer e construir barreiras sem fontes de energia de alta potência?

A outra questão que volto aqui a reafirmar e que tenho vindo a salientar de várias formas e feitios há mais de uma década, é efectivamente a mais difícil de abordar no mundo em que vivemos. Como conseguiremos utilizar os recursos naturais de uma forma sustentável e duradora? Vivemos um problema de sustentabilidade que vai muito além da componente ambiental, sendo tb económico, político e moral. O aquecimento global, termo antigo em voga nas passadas três décadas, mas que hoje em dia, passou a ser estrategicamente chamado de alterações climáticas, é antes demais um problema de sustentabilidade de recursos e da conduta humana nas sociedades desenvolvidas.

Podemos e devemos aspirar a utilizar energias e materiais que sejam mais limpos e principalmente renováveis, sem ignorarmos que quaisquer que estes sejam, terão sempre uma componente não renovável, pelo menos à escala temporal humana.

Na sociedade do consumismo exacerbado em que vivemos, em particular nas designadas economias desenvolvidas, a política que nos é incutida do compra e deita fora, do possuir mais do que é essencial, do comprar o que vem de longe quando há igual mais perto, é na minha opinião o principal desafio que a humanidade vai ter de ultrapassar se quiser continuar a aspirar por um mundo melhor, mais justo e com futuro digno para a civilização.

Promover a ideia que vivemos actualmente com o consumo de electricidade verde como tem vindo a ser amplamente notificado na imprensa nacional e europeia, quando na realidade queimamos mais carvão do que nunca, ou que devíamos todos trocar para carros eléctricos quando na realidade devíamos era ter uma rede eficiente de transportes públicos, baseado num mix energético equilibrado, isto é usar o oportunismo politico para alcançar mandatos que no final nos deixarão com os mesmos problemas.

Imaginemos por exemplo que 100% da população europeia (actualmente cerca de 750 milhões que utilizam perto de 250 milhões de veículos) muda nos próximos 10 anos para carros movidos a baterias de lítio. O que acontecia á exploração deste mineral a nível mundial? Qual o seu impacto ambiental? Quais as suas reservas e quanto tempo durariam estas? E se fosse o mundo inteiro a adoptar a utilização do mesmo recurso? Seja o lítio para as baterias das renováveis, seja o petróleo, seja a sílica pura para os painéis solares, seja o gás, seja a nuclear, seja ele qualquer recurso energético e/ou mineral.

Um excelente exemplo é a água. Todos queremos preservar a água e os diferentes recursos hídricos, mas ao simultaneamente todos gostaríamos de ter piscinas e relvados verdejantes durante todo o ano. O mesmo ou pior se pode dizer com a rega de campos de golfe ou a agricultura intensiva em regiões com limitados recursos hídricos, como é exemplo o caso da região sul do país.

Aparentemente, o petróleo é hoje em dia o recurso que ninguém quer, mas sem o qual já não sabemos viver, sem ele nem sem os seus derivados. Em Portugal importamos 135 milhões de barris de petróleo bruto todos os anos (o equivalente a um campo de petróleo “jeitoso” para qualquer pequena empresa de petróleo) e consumimos em Portugal, de diferentes formas, 65 milhões de barris. O restante, praticamente metade do importado, é exportado já refinado para o estrangeiro, muitas vezes para os próprios países de onde compramos (dados do DGEG de 2016). Isto sem contar com todo o gás, todo o carvão, toda a biomassa (considerada energia renovável e limpo) que queimamos para produzir a nossa energia. Isto sem contar também que em Portugal, que não explora gás nem petróleo, os impostos sobre combustíveis representam 4% do PIB. 

Da energia primária (total) que consumimos, quero com isto dizer que o total da energia que Portugal consome, cerca de 70% são energia derivadas de recursos fósseis, utilizada de forma directa em diferentes indústrias tais como siderúrgica, transportes, etc. Os outros 30% são energia eléctrica. Desta, cerca de 50% corresponde a um mix de carvão (a maior parte), gás e petróleo. Aproximadamente os restantes 50% é renovável (ou seja 15% a 20% da energia primária consumida). Estima-se que metade desta é biomassa e biofuel, ou seja renovável mas também produtora de CO2. Portanto, 7.5 a 10% da energia primária em Portugal é efectivamente “limpa” sendo que a principal é hídrica, seguida da eólica e por último da solar. Estas não emissoras CO2, pelo menos de forma directa.

O Portugal verde das renováveis (segundo alguns dizem, pois na realidade correspondem a 15-20% do consumo primário de energia, ou seja perto de 50% da electricidade consumida) e da electricidade mais cara da Europa, é na realidade um país que está entre os nove onde mais cresceu o consumo do carvão (o mais poluente dos combustíveis fósseis) e o país onde mais cresceu o consumo de gás natural (o menos poluente dos combustíveis fósseis). Escusado será dizer que apesar de todo o ambientalismo mediático, o consumo de energia e recursos continua desenfreado, tanto em Portugal como pelo mundo fora. Mas estes pormenores parecem não interessar.

Não queremos a utilização de energias fósseis, mas não sabemos sustentar energicamente a indústria siderurgia, mineira, de aviação, de transporte marítimo de mercadorias, de instalação de centrais de energias renováveis sem a utilização de derivados de hidrocarbonetos. São estas as energias que alimentam o grosso dos sectores produtivos do país, incluindo e sem excepção o turismo, quer se queira ou goste quer não.

Não queremos, e bem, baleias com barrigas cheias de plástico nem tartarugas atrofiadas com invólucros plásticos mas comprarmos tudo super embalado. A tal ponto que foi necessário criar leis para o controlo da utilização de sacos de plástico. Apesar disto estas afinal não passaram de mecanismos para colectar mais impostos e piorar ainda mais a situação, ao substituir por sacos mais grossos e ainda menos degradáveis, mantendo inalterável o uso da quase totalidade de outros produtos plásticos.

Muito menos queremos a utilização de derivados nucleares, mas sempre que temos défice de produção de energia eléctrica compramos energia eléctrica nuclear a Espanha e França. Até quando temos graves problemas de saúde, já deixa de ser problemático recorrermos a exames médicos que usam a radioactividade e que hoje em dia chamamos de convencionais, sendo até considerado parte de um direito básico de saúde.

Aliás grande parte da luta dos movimentos contra as “alterações climáticas” não seria possível, ou pelo menos tão bem articulada, sem a utilização destes recursos e seus derivados. Imagine-se a Greenpeace sem os seus barcos movidos a nafta e/ ou diesel, ou a penduraram-se em infraestruturas poluentes sem o uso de cordas e equipamento técnico com origem em derivados de petróleo. Ou como presenciei uma vez num debate televisivo, movimentos ambientalistas que deslocaram centenas de pessoas através do uso de autocarros com mais de 30 anos de idade, garantidamente interditos por lei, de circularem dentro dos principais centros urbanos do país, os quais deixavam para trás uma nuvem de fumo visível a centenas de metros de distância. O próprio conceito de luta contra as alterações climáticas é em si um conceito um tanto ou quanto contraditório, pois pelas evidencias pré-históricas salientadas anteriormente neste artigo, seria o mesmo que dizer que são movimentos contra o ciclo natural da terra. Estes grupos deveriam repensar os termos por si usados para não demonstrarem a sua própria ignorância ou, não seja esse o caso, chamarem as coisas pelos nomes “alterações climáticas antropogénicas”.

Suponhamos por um instante que a terra é um sistema estático onde não existem alterações climáticas globais ao longo do tempo, sejam elas antropogénicas ou naturais, onde a temperatura é uma função constante ao longo do tempo. Acham que seria possível continuar a viver com o actual consumo de recursos naturais e energéticos durante os próximos 4 600 milhões de anos? Ou mesmo nos próximos 2.8 milhões de anos (período de tempo que hominídeos passaram na terra até ao momento)? Com o nosso estilo de vida actual, tal como é ambicionado e promovido pela sociedade desenvolvida actual? 

Este é a meu ver o real desafio que temos, devemos e iremos enfrentar. A utilização adequada, sustentável e racional dos nossos recursos, sejam eles materiais, sejam eles energéticos. Sejam eles renováveis ou fosseis, emissores de CO2 ou não (sim, porque há recursos energéticos renováveis que emitem CO2), limitados ou ilimitados, sejam eles mais ou menos poluentes. Todos eles são fundamentais para a qualidade de vida. Agora as proporções em que os usamos é que é um problema a abordar. O importante é que seja feito de modo equilibrado, sem excessos, proporcionalmente à sua abundância, longevidade e capacidade de regeneração, para que os possamos utilizar adequadamente nos desafios climáticos que inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde vamos ter de enfrentar.

Daí a crer que o fundamental é sermos razoáveis na utilização de recursos e para tal é necessário mudar a mentalidade actual dos radicalismos exacerbados, sejam eles da sociedade de consumo, sejam eles da sociedade dos utópicos ambientalistas medievais. Vamos re-aprender a ser moderados, a reutilizar, a cuidar do que é nosso, a cuidar de nós e assim esperarmos que ao menos consigamos cá estar mais 4 600 milhões de anos! 

P.S.: Suponho que se o seguinte texto fosse apresentado por uma qualquer super vedeta de Hollywood, teria um impacto radicalmente maior do que aquele que vai ter. (In)felizmente não sou o Leonardo di Caprio! O mensageiro é, quer se queira quer não, tão ou mais importante que a mensagem!

Pedro Barreto

sexta-feira, 15 de março de 2019

Cientistas usam uma trituradora para revelar o conteúdo de smartphones




Este post podia ser apenas sobre outro sumo de abacate. Mas não. Nesta trituradora foi colocado um smartphone por colegas da Universidade de Plymouth, no âmbito de um projecto de investigação. O projecto é liderado pelos Drs Arjan Dijkstra e Colin Wilkins, ambos geólogos do Departamento de Geografia e de Ciências da Terra e do ambiente e surge suscitado pelo aumento da procura de recursos minerais considerados raros para fabrico de dispositivos de alta tecnologia, indispensáveis ao nosso dia-a-dia. Isto cria, obviamente, um aumento na procura destas matérias-primas.

Com o apoio da Real World Visual, este grupo produziu um curto vídeo (3 min e 27s) onde demonstram a quantidade e a variedade de recursos que são utilizados anualmente na produção de telemóveis a nível global.

 

Em suma, para produzir um só telemóvel são necessários 10 a 15 Kg de minério, incluindo 7 kgs de minério de ouro de alto teor, 1 kg de minério de cobre, 750g de minério de volfrâmio e 200g de minério de níquel.
A pergunta que deixamos: como é que a sociedade actual contempla a extração destes minérios e em que medida é que percepciona a responsabilização pelos recursos que consome diariamente? A política Nimby (not in my back yard/ não no meu quintal) é altamente prejudicial para países com políticas ambientais e humanas pouco definidas e gera pretenciosismo ambiental/ecológico. 
 


A notícia original aqui